FABIANA MORAES
Q
ual o seu problema? Depressão? Angústia? Dor de cotovelo? Estresse? Tudo
bem. Nada que um modem, um computador e uma linha telefônica não resolvam.
Você, caro habitante do mundo moderno, já pode resolver - ou pelo menos
tentar - os problemas de sua alma se consultando com um especialista (seja
ele psicólogo, psicanalista ou mesmo um terapeuta-massagista) através da
famosa Internet. Tem sítio virtual pra tudo quanto é tipo de assunto: sexo,
separação, medo, síndrome do pânico...é só clicar o botão e sua vida - eles
juram - começa a melhorar.
"No dia de Natal, recebi um e-mail de uma grávida que estava prestes a se
suicidar. Graças a Deus, eu a ajudei e hoje já posso afirmar que ela será
Para a psicanalista Ana Beatriz, o tratamento virtual não pode ser considerado válido
uma paciente comum", diz a psicanalista Lazir de Carvalho Santos, 52 anos,
que reside em Paranaguá, no Paraná, e atende, desde 1998, diversos
pacientes via ICQ, seu programa de computador favorito para realização de
consultas. "Tentei outros, mas eles não me davam tanta segurança no
diagnóstico", diz. Lazir é uma apaixonada pelas análises via chat e chega a
dizer que prefere tratar seus pacientes virtualmente a recebê-los em seu
consultório. "Pelo computador, a transferência, vital para qualquer
tratamento, é bem mais rápida".
Inicialmente, o trabalho, uma monografia para conclusão do curso de
psicanálise, tinha como objetivo principal traçar um comparativo entre a
análise virtual e a `real'. Lazir conversou com 17 pacientes, 12 deles via
Internet e cinco em seu divã real. "Foi ali que percebi a eficiência do
diagnóstico.
É bem mais fácil cuidar de alguém virtualmente. No mundo real,
se cai uma chuva, o paciente deixa de ir ao consultório", conta a analista,
que se formou ("com louvor", como faz questão de afirmar), em dezembro de
1999.
Além do site da récem-laureada Lazir - que, diga-se de passagem, é um
atentado ao bom gosto, cheio de florzinhas e anjinhos e sapatinhos e tantos
outros `inhos' -, pode-se acessar o pernambucano Pergunteaquemsabe, onde,
além de diversos especialistas em psicologia e psicanálise, você encontra
as opiniões e dicas de tarólogos, advogados, artistas e educadores.
Clicando no link Auto Ajuda, é possível enviar seu caso a profissionais
ligados a temas como Medo, Sexo, Separação
e Depressão, além de outros.
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Para começar o tratamento, basta descrever seu caso numa janela
especialmente criada para o relato do drama. Você também precisa enviar seu
nome, idade, lugar onde vive e, claro, se já realizou algum tratamento
anterior. Os teleconsultores virtuais gratuitos, como se denominam os
especialistas, analisam seu caso e enviam a você as respostas para seu
problema. De graça, vale dizer.
O Psiconline, outro sítio virtual especializado em análises, também traz
especialistas prontos para receber seu e-mail. Aqui, o tratamento é feito
da seguinte maneira: depois do primeiro contato - você envia uma mensagem e
relata como foi sua infância, como é seu relacionamento com a sociedade,
com seus pais e colegas de trabalho - e depois passa a ser monitorado
semanalmente pelo analista. Prático e rápido como sugerem as relações
atuais.
A CULPA É DE FREUD - Para a psicanalista Edilnete Sampaio, uma das
fundadoras do Círculo Psicanalítico do Recife, a verdadeira análise só
acontece com o contato real entre o paciente e o especialista. "A palavra é
o principal elemento de expressão de quem está sendo analisado. Trabalhamos
com a livre associação, que se dá quando a pessoa fala sobre ela mesma sem
nenhum fio condutor. Também é necessário que o paciente conheça e confie em
seu analista, e isso só acontece face a face", diz Edilnete.
Outra especialista, Ana Beatriz Zuanella, uma freudiana clássica que
utiliza o divã em suas consultas, também acredita que o contato é
fundamental para a obtenção de um diagnóstico correto. Beatriz toca num
ponto fundamental do embate entre a análise virtual e a real: vários sites
se dizem próprios para as pessoas com dificuldade de relacionamento social
ou extrema timidez.
"É complicado, porque essa prática incentiva um problema que precisa ser
tratado. Hoje, recebo jovens que desenvolveram comportamento
obsessivo-compulsivo se relacionando apenas pela Internet", revela. A
carioca Lazir rebate a opinião de suas colegas, e diz que não precisa ter
nenhum contato `real' com seus analisados. "Trabalho a mente, não o corpo.
Me interessa apenas o pensamento. É só lembrar que o próprio Freud fazia
análise de costas para seus pacientes".
*Para quem deseja arriscar:
www.psiconline.psc.br
www.lobotomy.com
www.pergunteaquemsabe.recife.net
www.psicanalise.virtual.nom.br
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