Jornal Do Commercio (PE)
Jan/2000

COMPORTAMENTO - Os "divãs virtuais" começam a virar mania, mostrando que internet virou lugar para cuidar das questões da vida... até a linha cair

Freud explica. Só que pela Internet

FABIANA MORAES
Q ual o seu problema? Depressão? Angústia? Dor de cotovelo? Estresse? Tudo bem. Nada que um modem, um computador e uma linha telefônica não resolvam. Você, caro habitante do mundo moderno, já pode resolver - ou pelo menos tentar - os problemas de sua alma se consultando com um especialista (seja ele psicólogo, psicanalista ou mesmo um terapeuta-massagista) através da famosa Internet. Tem sítio virtual pra tudo quanto é tipo de assunto: sexo, separação, medo, síndrome do pânico...é só clicar o botão e sua vida - eles juram - começa a melhorar.
  "No dia de Natal, recebi um e-mail de uma grávida que estava prestes a se suicidar. Graças a Deus, eu a ajudei e hoje já posso afirmar que ela será


Para a psicanalista
Ana Beatriz, o
tratamento virtual
não pode ser
considerado válido

uma paciente comum", diz a psicanalista Lazir de Carvalho Santos, 52 anos, que reside em Paranaguá, no Paraná, e atende, desde 1998, diversos pacientes via ICQ, seu programa de computador favorito para realização de consultas. "Tentei outros, mas eles não me davam tanta segurança no diagnóstico", diz. Lazir é uma apaixonada pelas análises via chat e chega a dizer que prefere tratar seus pacientes virtualmente a recebê-los em seu consultório. "Pelo computador, a transferência, vital para qualquer tratamento, é bem mais rápida".
  Inicialmente, o trabalho, uma monografia para conclusão do curso de psicanálise, tinha como objetivo principal traçar um comparativo entre a análise virtual e a `real'. Lazir conversou com 17 pacientes, 12 deles via Internet e cinco em seu divã real. "Foi ali que percebi a eficiência do diagnóstico.
  É bem mais fácil cuidar de alguém virtualmente. No mundo real, se cai uma chuva, o paciente deixa de ir ao consultório", conta a analista, que se formou ("com louvor", como faz questão de afirmar), em dezembro de 1999.
  Além do site da récem-laureada Lazir - que, diga-se de passagem, é um atentado ao bom gosto, cheio de florzinhas e anjinhos e sapatinhos e tantos outros `inhos' -, pode-se acessar o pernambucano Pergunteaquemsabe, onde, além de diversos especialistas em psicologia e psicanálise, você encontra as opiniões e dicas de tarólogos, advogados, artistas e educadores. Clicando no link Auto Ajuda, é possível enviar seu caso a profissionais ligados a temas como Medo, Sexo, Separação e Depressão, além de outros.
  Para começar o tratamento, basta descrever seu caso numa janela especialmente criada para o relato do drama. Você também precisa enviar seu nome, idade, lugar onde vive e, claro, se já realizou algum tratamento anterior. Os teleconsultores virtuais gratuitos, como se denominam os especialistas, analisam seu caso e enviam a você as respostas para seu problema. De graça, vale dizer.
  O Psiconline, outro sítio virtual especializado em análises, também traz especialistas prontos para receber seu e-mail. Aqui, o tratamento é feito da seguinte maneira: depois do primeiro contato - você envia uma mensagem e relata como foi sua infância, como é seu relacionamento com a sociedade, com seus pais e colegas de trabalho - e depois passa a ser monitorado semanalmente pelo analista. Prático e rápido como sugerem as relações atuais.

A CULPA É DE FREUD - Para a psicanalista Edilnete Sampaio, uma das fundadoras do Círculo Psicanalítico do Recife, a verdadeira análise só acontece com o contato real entre o paciente e o especialista. "A palavra é o principal elemento de expressão de quem está sendo analisado. Trabalhamos com a livre associação, que se dá quando a pessoa fala sobre ela mesma sem nenhum fio condutor. Também é necessário que o paciente conheça e confie em seu analista, e isso só acontece face a face", diz Edilnete.
  Outra especialista, Ana Beatriz Zuanella, uma freudiana clássica que utiliza o divã em suas consultas, também acredita que o contato é fundamental para a obtenção de um diagnóstico correto. Beatriz toca num ponto fundamental do embate entre a análise virtual e a real: vários sites se dizem próprios para as pessoas com dificuldade de relacionamento social ou extrema timidez.
  "É complicado, porque essa prática incentiva um problema que precisa ser tratado. Hoje, recebo jovens que desenvolveram comportamento obsessivo-compulsivo se relacionando apenas pela Internet", revela. A carioca Lazir rebate a opinião de suas colegas, e diz que não precisa ter nenhum contato `real' com seus analisados. "Trabalho a mente, não o corpo. Me interessa apenas o pensamento. É só lembrar que o próprio Freud fazia análise de costas para seus pacientes".


*Para quem deseja arriscar:
www.psiconline.psc.br
www.lobotomy.com
www.pergunteaquemsabe.recife.net www.psicanalise.virtual.nom.br

__________________________________________________________________________
www.auto-ajuda.recife.net * galves@nlink.com.br * (0xx81) 3428-2486 * ©gustavo arruda

Volta Página principal Imprime esta página